quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sabores

Depois do primeiro choro, como conta minha mãe, fui acolhida em seu seio para usufruir do primeiro alimento da minha vida. Não tenho lembrança do sabor nem do cheiro, mas com certeza, o item que mais se fez importante naquele momento foi o amor aconchegante.
Não pude aproveitar o leite materno por muito tempo, apenas oito dias. Um problema materno não permitiu. Então tive que tomar fórmulas infantis durantes os primeiros meses de vida.


Na passagem de uma alimentação essencialmente líquida para uma sólida, as sopinhas de legumes com pedacinhos de carne e as frutas amassadas ou raspadinhas foram os alimentos protagonistas. Batata, cenoura, beterraba, frango, banana, maçã, mamão, pêra são alguns deles. Iogurte Chambinho® não faltava também. Não posso esquecer do leite, claro, era alimento essencial.

Depois das sopinhas de legumes e papinhas de frutas, a alimentação da família se fez presente para mim. Nessa época, minhas preferências começavam a se manifestar de forma mais forte. Tomate era um terror! Minha mãe costumava fazer suco de tomate e era um problema tomá-lo. Outro suco que eu era quase obrigada a tomar era o de beterraba com laranja. Nas primeiras vezes não foi difícil, mas com o passar do tempo, ele se tornou intragável. Minha mãe dizia: “Tem que tomar pra criar sangue e ficar forte!”. Acho que era pouco anêmica, porém, na minha convicção infantil, não adiantava tal argumento. O paladar falava mais alto.

Gostava de comer na casa da minha avó materna. Ela era mais flexível comigo nessas questões alimentares. Adorava o ovo frito que ela fazia. Aquele crocante das bordas era uma festa para os meus 5 anos de idade.

Com o tempo e meu crescimento, pessei a valorizar um pão quentinho ou tapioca ou cuscuz com aquela manteiga derretendo na superfície... delícia!


Entre os 10 anos de idade e a adolescência, comecei a curtir os almoços em família. Todos juntos aos domingos, na casa da minha avó materna. A reunião poderia ser por causa de algum aniversário ou simplesmente para todos se encontrarem. As tias começavam cedo a fazer o almoço. Baião-de-dois, carne assada, farofa de carne seca, vatapá ou uma boa feijoada faziam parte do cardápio. Se era aniversário de alguém, depois tinha bolo. Ah, os bolos... esses são inesquecíveis. Adorava ver minha mãe fazendo-os. Posso considerá-la a culinarista oficial da casa. Quando eu sabia da notícia de que um bolo estava por vir, me plantava na cozinha e acompanhava todo o processo, querendo participar muitas vezes. Quando minha mãe deixava, era uma felicidade!

Da adolescência, não posso deixar de falar das reuniões entre amigos. Sempre que ia visitar a casa algum amigo do colégio, não pensávamos somente em alugar filmes para gastar horas deixando que outras pessoas vivessem aquelas horas enquanto parávamos no tempo. A diversão era saborear algum prato diferente, porque, querendo ou não, a dona da casa preparava algo não-comum para receber a visita. E depois? Brigadeiro de panela. Sempre foi divertido fazer e conversar sobre qualquer coisa enquanto o cheiro de chocolate se espalhava pela casa.

Uma das coisas que mais me fascina na comida é a possibilidade de misturar sabores e aromas. Amo a comida nordestina, com seus milhos e farinhas, jerimuns e macaxeiras, rapaduras e cocadas, peixes e mariscos. Sertão e litoral. Mas também amo a comida brasileira como um todo, e suas heranças internacionais.

Hoje em dia, com os conhecimentos adquiridos na Nutrição, a vontade de unir comida saudável com sabor e aparência agradáveis é grande. Muitas pessoas tem o conceito de que se alimentar bem é comer muito, que comida saudável é cara e não tem gosto ou que alimentação equilibrada significa restritiva. Comida não tem que ser um transtorno, tem que ser um prazer associado a benefícios.

Para mim, comida aproxima e felicita.

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